sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Anagrama da tristeza do cisne

Devo afastar-me desse amor lento que não ouve quando lamento?
a maior sede de quem ama é o arrebatamento de quem se quer...

Aos trinta anos, o zeloso vê no mínimo mais cinquenta a perder
estatística-mente, embora amar não seja jamais idade um empecilho
especialmente para alma-mente de ideias vivas a arder
onde o amor carnal que lhe parecia fundamental
numa idade mais avançada velho, certamente
os gritos de uma morte anunciada na juventude
precipitam a morte do amor visceral submerso
em breves versos de um jovem homem
que ao pensar em sua senilidade implacável
não vê senão outra pessoa além...
para estar na plenitude do pertencimento
junto num viver inenarrável
desprovido do teu desdém

tempo curto amor eterno
vida longa sem teu amor

depois do fim voltarei cisne
s-e-n-t-i, sou t-i-s-n-e.
Anagrama do cisne sem-ti.  

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Foi como quis.

Despediu-se naquela manhã de julho. Aliás, não foi bem uma despedida, pois contido naquele beijo matinal que recebia enquanto dormia, já elucubrava em nunca mais vê-la, ficando a última imagem dela numa lembrança de silhueta que na porta aberta do quarto o sol da manhã descrevia. Existem monstruosidades necessárias, ou somente são atributos das mentes doentias? Em realidade, doía-lhe não ter se despedido decentemente, e o orgulho dela o surpreendeu quando deixado de lado recebera naquela mesma tarde um ligação que questionava a racionalidade vil daquele gelado coração.
Se conscientizou de que não merecia o amor dela, nem tampouco o carinho, e absorto não raras vezes revivia aquele momento crucial de separação, que o fez escolher entre ela e a outra incerteza da vida que é viver só. Nunca mais se falaram depois daquela ida sem sequer um bilhete em cima da mesa! Foram apenas tentativas infrutíferas de enviar cartas para remediar a irremediável covardia que foi abandoná-la. Ao fim, queria dizer daquelas poesias, pois as perdeu. E como não poderia deixar de ser, os deuses da poesia não suportariam tamanha injustiça. A se soubesse que ela sabe que a justiça foi feita, ao menos teria um pouco de descanso das trepidações inerentes da vida, que quando revividas sem alento descamam ainda mais as feridas.

Simples

O estado de se perder em si próprio
Suplanta toda alternativa vaga
Ócio de ninguém, digressão que propaga
o recanto febril, o átrio, o vazio...

Em fins de tempos as mudanças temporais pouco importam
A moça do tempo dos telejornais
nos dispersa do horizonte que se apaga
tais mudanças dessa nossa vida repleta
pré-constrói os silêncios noturnos
embalados pelo olhar do poeta

De que vale robotizarmos o futuro?
Estar seguro em insosso muro
que aparta as gentes
e nos torna dementes
inaudíveis aos ventos decorrentes
do balé das borboletas
das simples borboletas.

De onde vem os criminosos?

Crise de critérios
Crivos criados nas criaturas
Críticas a crimes
Crianças não são mais que crias
Que recriarão criativamente a criminalidade humana

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Comunicação Arredia

Desossado aprendiz de verme
Quem imaginaria
Por certo teme
A se ver sem precisar do espelho

O latido raivoso do cão
Afoga o horizonte
E uma nave sem motor
se desprende do chão

Num terraço de estrelas
um elevador é construído
Suador na subida
leva o cheiro da terra

Andarilho de coragem
a andarilhar enlatado
frente críticas
deveras criativas

Esvoaçante deleitar
nas pedras indiferentes
felizes no leito do rio
a pólvora inventou o pavio

Imitar o soldadinho
Sonhando ser tesoura
que ao cortar a papoula
Dá início noutra guerra

Clausura repensada
orvalhando cérebros
a terra não pode ser entendida
em seus desígnios quiméricos

João-bolão deixa a língua roxa
e a abelha mirim
deixaria o joelho vermelho
se pudesse picar assim

à Guiga (Daniele) e Datinho (Daltro),
primos que fizeram parte de minha infância querida

Manhãs de Outono

Manhãs de outono
Emaranhados cabelos em estado de vigília
espreguiças de estralar elos
Experimento cotidiano
qual imaginaria
a respirar-te, cheiro a primeira consciência do dia

Sensibilidade

Perambulando lindamente
uma criança sorri
a passos indolentes
reabre a porta que dantes abri

O porteiro da sorte
Com olhos amigos
Fita na calçada mendigos
- Entre, a chuva está forte.
Uma sopa quente
Piloro vazio
Em tenra idade
escapei do frio

Próprio Poema

Comecei pelo título
Pois não sabia no que ia dar
E ainda não sei
nesse próprio poema
(ou própria poesia).
Trepidam palavras a divagar
Recalcitrante doçura
Eivadas dores da candura
amei? Acabou. Reluto!
Sempre enquanto vivo
não há que se entender o luto
das forças antagônicas. Morte, Vida...
Resposta devida em face da morte:
- Não sei.
Resposta devida em face da vida:
- Dei sorte.

Primeiro Poema

Há dias quero escrever-te este poema
há tempos que não escrevia assim
Neblina de noite fria, em mim
delírios de um novo tema

Ao faltar palavra
Vem teu nome de forma tão clara
Como se tudo se resumisse
Em duas ou três frases que me disse

E significam tanto, e muito
Teu despropositado dizer
Balbuciando afoito mito
de que um dia serão
unidos nossos corações aflitos
em verdade uníssona de razão?
Desesperança crível
Sabotaram a imensidão
Teu eu em mim...
Já não te vejo em mundo vão.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Ir sem se despir do destino

Um detalhe só, apenas
Do amor rápido, sadio
Quando vi você saiu
Teu olhar pelas esquinas
Perdi.
Me ri!
Absorto da penumbra que aos poucos te escondia
e o brilho cálido da rua que teus passos distancia
fez também brilhar a pele tua
não pela famigerada lua, por tantos já cantada!
Mas pela luz artificial do poste...
Matiz da imagem sonhada
estrela por mim esperada
E se fosse? Porque foste?

Ir sem se despir do destino

Um detalhe só, apenas
Do amor rápido, sadio
Quando vi você saiu
Teu olhar pelas esquinas
Perdi.
Me ri!
Absorto da penumbra que aos poucos te escondia
e o brilho cálido da rua que teus passos distancia
fez também brilhar a pele tua
não pela famigerada lua, por tantos já cantada!
Mas pela luz artificial do poste...
Matiz da imagem sonhada
estrela por mim esperada
E se fosse? Porque foste?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tempero da saborosa vida

Ou vivi casos inventados
Ou efetivamente os vi?
Nessa dúvida dos que foram extirpados
Já não sei se sofri.

Não importa pra ninguém
O amor doído
Seja ele qual for

Ensinar amar
É senão inventar
A desimportante dor

Assim desocupado leitor
Pratique o amor
Naquilo que acredita sê-lo
Amor pêlo-no-pêlo ou
Amor-alma e tempero

domingo, 10 de abril de 2011

Caracóis de Outono

Bons ventos formam espirais de folhas secas
Teus cabelos por certo inspiraram tais movimentos
Num descaminho de fios bem feitos...
É teu outono e seus efeitos

Morte

Qual os caminhos, se é que são plurais, doem menos?
Ou quem sabe a dor é inevitável?
Es-co-lhas, co-lhas
E o que não for carregado
A morte se encarregará
Eis o caminho inevitável

Solidão que Grita

Ora portanto, um poema solto
Sem serventia como tantos outros
Que fiz, reclamando a natureza poética!
Arquétipos idealizados a cada palavra cética!

Só, humanamente só.
Só sendo humano pra solidão ser também no poema.
Tantas coisas que só sendo humano...
Até quem não o é, se torna por não ser.
Mesmo que perdida a humanidade, um dia houve.
Isso pela força que tem, jamais se perde.
E a humanidade ferve, na solidão de seus desígnios silenciosos.

Ausência

- Amor?
- Presente.
- Poesia?
- Não há mais amor no mundo.
As pessoas (Titulares únicos de tal sentimento.)
Desconhecem a origem do amor
Assim, prevalece a dor
Companheira dos solitários
Privilégio dos tristes
Desígnio dos verdadeiros otários
Ignóbeis prêmios nobéis da ignorância!
Não tenho um vintém!
Poesia presente, amor também.

Marcas Inevitáveis

Sem querer, sempre sem querer
demarcado como gado no campo
assim sem saber
eclodiram as feridas do tempo
e as cicatrizes desferidas de lembranças
reabrem alentos de esperanças

Quem recordaria o que desconheceu?
Se um beijo meu te marcaria
ora quem o saberia? - Amanheceu.
E o nascimento do dia
Desfez memórias de tormento
Me marcaste, sutil momento

Doravante esvaísse de centelhas
O que era forte enfraqueceu
Perdoa agora aquele beijo meu?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Livros

A pluralidade de instantes
inscreve em momentos estanques
a possível estória já obsoleta de que há em tudo um poema.

Embora creiam desavisados
alguns livros empoeirados
de poemas mal acabados
que o conteúdo de seu interior
é uma fagulha de uma totalidade do amor

Ao citar o livrinho como ser plural
Perco-me em seu sabor e calma
Estáticos em seus mundos de dor e alma, natural.
É, cada livro, um provocativo amigo.