sábado, 10 de abril de 2010

Brasil, uma aristocracia moderna.

A indignação propalada pelos mesmos sujeitos que se valem de sua condição aristocrática para manter seus privilégios aristocráticos, revela a situação preocupante com que vive a classe política brasileira afundada na contradição de seus altos salários. A hipocrisia é uma doença social e suas implicações no cotidiano do cidadão comum inutilizam-no enquanto agentes de mudança, no intuito de romperem com a relação viciada existente entre os aristocratas, pois o povo é constantemente bombardeado pelo consumismo que esmaga o individuo o impelindo pela necessidade de sobrevivência, onde nesse sentido não encontra espaço para interferir positivamente na conjuntura do poder do estado, a não ser pela pseudo-democracia sazonal onde o cidadão através do sufrágio universal tem a clara noção de agente de modificação daquilo que internamente não se modifica através do voto, ou seja, a postura esperada por aqueles já ingressos na carreira política pelo voto é de que os recém chegados dancem conforme a música e não ataque antigos privilégios dos pseudo-representantes do povo. Acredito que os argumentos de persuasão àqueles que chegam não sejam de todo muito dificultosos de se efetivarem, tendo em vista que a ética e moralidade tão desmedidamente dita nos próprios meios de comunicação acaba por se esfacelar na estrutura política, e, portanto o tiro no próprio pé de fato nunca é dado e as balas desse tiro jamais atingirão os pés de quem pisa sem medo de retaliação na população brasileira enquanto não haver ativismo político verdadeiro com reivindicações que atacam os privilégios. Num país de dimensões continentais como o Brasil a centralidade do poder numa capital tão distante dos grandes centros revela em si já uma notória inclinação histórica pela manutenção da realeza numa distancia favorável a continuidade da aristocracia brasileira sem sofrer as pressões sociais cada vez mais enfraquecidas pela própria natureza econômica das relações humanas que fragiliza de maneira muito importante e fragmenta os movimentos sociais criando o terreno fértil para corrupção. Para Montesquieu "aristocracia não implica necessariamente abuso político ou econômico contra as camadas menos favorecidas", entretanto o conceito de modernidade enquanto ruptura com o pensamento tradicional se enquadra na situação atual da política brasileira, pois a dualidade do pensamento montesquiano no que se refere à aristocracia aponta para possibilidade de estarmos vivendo hodiernamente num governo aristocrático onde o abuso de poder mantém o privilegio de poucos, onde a democracia serve apenas para legitimar o uma representação que não atende efetivamente aos anseios do povo. Defender a tese de que não há sistema político perfeito, e que a corrupção sempre existirá, é de certa maneira aceitar e estimular a continuidade da pseudo-democracia brasileira. A constituição brasileira tão lindamente escrita pelos abonados constituintes refere-se a inúmeras garantias individuais que ainda não conquistamos enquanto nação, e uma delas é a de que "o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição". Sabemos que o parágrafo único do artigo primeiro da constituição de 1988 é uma meta a ser alcançada, e não algo que se consolidou no Brasil.

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