Monstro I
Anônimo fantasma da criação
A centelha relapsa do teu véu
Escurece a abóboda cruel
Frente a pequenez do homem e sua mão
Devassa, tão singela
Enfadonha e bela
Criatura amarga das profundezas
Fique por aí mesmo
Teus segredos subentendem-se
E teus medos inexistem
Na coragem obsoleta
Do humano sentido
De superioridade triste
Toda essa devassa de monstros da mente
Equivocados...
Tal qual essa anedótica tentativa de julgá-los
Reflete falta de objetividade
Ora, tais monstros coexistem de fato!
E dar-lhes um formato
Necessita de tamanha sub-grandiloqüência
Que prefiro parar aqui, para não beirar a demência
Mostro II
Pra quem quer ver diz o poeta!
Sem o embargo da provação
Sem eficácia da auto-suficiência
Na contramão
Assim, afunda a chumbada no frio oceano
À margem o pescador
E nadando a poesia
No mar desgraçado da consciência mundana
Onde o pescador se faz poeta e presa vira
Da palavra leviana
Refém da contra-mentira
Fingidor, quem dera ser!
O contraditório infeliz
Seu desígnio é falar de si
E escapar por um triz
Do lado mal do espelho d'água
Mostra o Monstro III
Devorar palavras alheias
Eis o monstro malcriado
Come-come e nunca está saciado!
Glutão malvado criatura bela
teu criador sibila
Se apropria dos feitos que carrega
O Monstro Mostra IV
Subjuga-te monstro meu!
Mostra teu poder meu escravo!
Serve a mim orgulhoso
Não sente os espinhos que lhe cravo!
Quimera estonteante
Mostra aos pretensos dementes que ousam enfrentar seu mestre
Que já não há caminhos nessa vida destoantes da poesia
Pois nada é sem ser poema antes de ser criatura acabada.
Por fim, à mostra, oh! monstro malévolo e fiel
te retiras para ser recriado com a matéria prima do fel
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