sábado, 10 de abril de 2010

Monstros

Monstro I

 
 

Anônimo fantasma da criação

A centelha relapsa do teu véu

Escurece a abóboda cruel

Frente a pequenez do homem e sua mão

Devassa, tão singela

Enfadonha e bela

 
 

Criatura amarga das profundezas

Fique por aí mesmo

Teus segredos subentendem-se

E teus medos inexistem

Na coragem obsoleta

Do humano sentido

De superioridade triste

 
 

Toda essa devassa de monstros da mente

Equivocados...

Tal qual essa anedótica tentativa de julgá-los

Reflete falta de objetividade

Ora, tais monstros coexistem de fato!

E dar-lhes um formato

Necessita de tamanha sub-grandiloqüência

Que prefiro parar aqui, para não beirar a demência

 
 

Mostro II

 
 

Pra quem quer ver diz o poeta!

Sem o embargo da provação

Sem eficácia da auto-suficiência

Na contramão

Assim, afunda a chumbada no frio oceano

À margem o pescador

E nadando a poesia

No mar desgraçado da consciência mundana

Onde o pescador se faz poeta e presa vira

Da palavra leviana

Refém da contra-mentira

 
 

Fingidor, quem dera ser!

O contraditório infeliz

Seu desígnio é falar de si

E escapar por um triz

Do lado mal do espelho d'água

 
 

Mostra o Monstro III

 
 

Devorar palavras alheias

Eis o monstro malcriado

Come-come e nunca está saciado!

Glutão malvado criatura bela

teu criador sibila

Se apropria dos feitos que carrega

 
 

O Monstro Mostra IV

 
 

Subjuga-te monstro meu!

Mostra teu poder meu escravo!

Serve a mim orgulhoso

Não sente os espinhos que lhe cravo!

Quimera estonteante

Mostra aos pretensos dementes que ousam enfrentar seu mestre

Que já não há caminhos nessa vida destoantes da poesia

Pois nada é sem ser poema antes de ser criatura acabada.

Por fim, à mostra, oh! monstro malévolo e fiel

te retiras para ser recriado com a matéria prima do fel

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